segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma canção melhor

Suspeita de melhorias.
Sente bem a hipótese de um futuro melhor vislumbrar na sua intuição.
A razão quer duvidar, mas a esperança alvitra ao som do cuco de um relógio dando a hora do seu momento. Acredita no seu propósito, chegado na ânsia de ver a noite rapidamente passar, na ausência da vontade de dormir.
Ilusão?
O fantasma... No deambular pelo corredor, embriagado de café tardio, parece-lhe sentir uma presença espreitando, e já a sua mente suspeita de um possível retorno do medo, da rejeição, do abandono da possibilidade de conquistas.
Não. Espírito positivo; já diziam os sábios humanistas e os neo-espiritualistas.
Não...Talvez fosse só e tanto um anjo a abençoar o passo seguinte desta alma só.
Embala-se na voz paternal da sua boa consciência e chega, enfim, o sono...
Descansa na melodia de uma expectativa juvenil no poder de viver os acontecimentos ao sabor da vontade de um destino maior.
E chega o dia da demanda.
Dormiu pouco mas sonhou acordada o suficiente para encarar tranquilamente o presente.
Numa solução equilibrada, alegra-se pacificamente da forma como a vida se transforma e a transforma.
E que venha essa transformação.
O que quer que aconteça será sempre pelo melhor...

sábado, 15 de janeiro de 2011

Três estranhos na marginal

Faz frio. As pedras soltas dão voltas na biqueira do sapato que escrevinha qualquer infinito pelo lixinho cinzento que o empoeira. É preto o sapato. As costas pesadas que carrega são de um mesmo tom pensativo que a neblina desse fim-de-tarde e as mãos nos bolsos contam nuvens de papel amarrotadas da ida à máquina de lavar a roupa. Reinicia a lenta e tensa marcha e espreita de soslaio o mar.

Este vem a passo ou correndo em marcha, quase ridículo, levitando cada perna a um compasso imaginadamente equilibrado. Nem vê o mar que se estende à direita, atrás do paredão. Muito menos os humanos.

Levanta os olhos da poeira do desânimo. Avista um homem de calções que vem desengonçado sobre a perna esquerda que é mais comprida que a direita. Não, espera... Afinal é a direita que é mais alta. Agora é a esquerda... Diabos... Enjoado, deita os olhos ao mar. As mãos saem dos bolsos para largarem as nuvens e sentirem o ar nas palmas humecidas. A fila de carros da marginal... e ele é o nome da tipologia urbana dessa estrada, sem caminho nem destino.

É melhor ter cuidado, não vá este estranho escolher sentir a colónia do meu bebé.

Mais um humano, repara sem deixar seu ritmo obsessivo.

Olha, um macambúzio... Isto há com cada personagem...

A ponta dos sapatos pretos aponta para o protótipo da mulherzinha que pariu uma criança. Umpf... E cadê o pai... - Que belo domingo, senhorita. Afirma achando que a provoca com humor, enquanto puramente repele a colónia.

Ela acelera o passo do carrinho e aproveita a passadeira e o fluxo mole dos carros no pára arranca para se esgueirar para o outro passeio.

Repara a gaivota que foge também. Da tempestade do céu de papel esmifrado. Não dos seus.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Last night's dream

Coming and going
I've come to track
And I'm finally back
Last night
Last night
For our kigndom we sang
One voice

And when our band started to play
The orchestra's chest order was on our time
Order to set us free
Running horses wild
That age we were queens
Fighting evil of all kinds
I know it was a dream
But now I recall those days
Playing with manners
Just toys
But we made them flags
For honor and good
White dresses and standing stairs
Temples and promisses
Of loyalties
Back there we were royalties

sábado, 16 de outubro de 2010

Noite perdida

Soubesses tu, noite perdida, noite escura e fria…

Ontem sonhei que dormias a meu lado.

Levada ao colo, deixei-me cair nos teus braços.

Em abraços nus que ao longo dos dias se repetiam.

Adormeci e o que eu perdi sem ver as luzes que o dia reflectiam.

E nessa noite, entre tantas outras…

Corpos enlaçados em constelações de pessoas a dançarem.

A vida fugidia guardada na minha mão.

O amor que se consome antes dos dias nascerem.

Noites a fio que não passaram de uma ilusão.

Se tu nasces eu adormeço sem abraços.

Fingisse eu não ser tua, fugisse de ti pela rua!

Era tudo igual.

Noite perdida pelas escolhas que se fazem.

E eu que só queria sentir os teus braços…

Noite perdida, noite escura e fria, se tu nasces eu morro.

Eu quero ver o sol raiar!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Janela aberta

Abriu-se aquela janela
Abriu-se de par em par

Faça-se dela porta
E jardim com estrelas a brilhar

Aquela tímida janela
E o espelho em frente
São vista para a imensidão do teu olhar

São beijos arrancados
Na promessa de haver sempre
Uma porta aberta

Para aquela estrada
Para aquele lugar

Janela tímida, janela aberta
Deixa-me por ti olhar
Deixa-me entrar
Abrir aquela porta
Andar nesta vida contigo de mão dada

Deixa-me entrar
Deixa que te assome e transforme
Abra-se essa porta
Para veres o sol brilhar

Que a tua vida se mostre
Nesta e naquela nota
E aquela porta
Se abra de par em par

Deixa que te assome e transforme
Abra-se a tua porta
Comigo por teu par

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Quadro


Eu balanço no regaço do meu sonhar e me baloiças ao colo, anunciando a criança querida, enfim nascida, descendência das estrelas, que outrora fomos e que ainda guardamos no coração. Demonstras ramo de flores variadas e perfumadas como as cores e os humores da nossa humana condição e que são prova arrancada da nossa paixão. E tu olhas com respeito o céu, homenageando-o, buscando sua aprovação. Um barco de papel que flutua no mar em que me banho vestida de puro branco é carta de amor já lida e percorrida como a letra de uma canção, o cunho da promessa partilhada ao longo das horas. Talvez apenas a ilusão de que me pertence essa carta… E escondido nas flores, o espírito protege o observador e o amor da desilusão, guardião da mudança de estação, poeta de meu coração. Como lugar sagrado o sol num prado paradisíaco de mil sabores e mais as cores das flores. E flores, outras, sobem em coroa ao céu nas mãos devotas de quem acredita que da alma há sempre mais para viver, mesmo que sem se ver. Asas de anjo dão alento ao meu triste olhar que se perdia em dores por quem perdi, até que chegasses para me fazer compreender, finalmente, que o amor vem mais uma vez. És quadro inacabado, sinal de aviso prudente que a vida somos nós quem a pinta. E, lá ao cimo, talvez não tão próximos, os montes adensam-se alegres e fantásticos em êxtase, por ter finalmente chegado a hora dos corações.

domingo, 5 de setembro de 2010

Frutos do Amor

Tiver eu a graça, a graça da vida em mim, oferecida em dupla e una consciência, e jamais, como outrora noutras, às tantas da noite incauta de ímpeto, calor e suor, para nem falar do Sem Amor… Que o desejo enganou, trocando a palavra liberdade por irresponsabilidade. A mim. Em sobressalto e, posto isto, que faço eu que logo me enlaço com fervor por duas dúzias de olhares profundos e a promessa de, talvez, uma dada carta por abrir vier, chegada do outro lado do mar!? Tiver eu a sorte de te encontrar, e não te engano, sorte a tua se ainda me encontrares sem marcas de um longo desencontro e vã desilusão, num encontrão, solavanco arrancado ao granizo da vida, puxão de orelhas à impura intenção que não se leu naquele olhar, nem num outro, mas que, agora reparo, veio rondando-me desprevenida na minha inocência já ténue nos lençóis depois frescos. Sorte a nossa, meu amor! – se eu conseguir seguir estas linhas e lhes dar um bom destino, romance digno de um fim por imaginar… Ó – Ou serei, de facto, Cassandra? – Certamente possuída e punida pelo homem que me amou quando eu só amava outro. Só amo o impossível, meu amor, amo-te, inexistente, na profecia de que, onde quer que estejas, me lês e me voltas a escrever.

Vão-se as gaivotas. Vão-se os gaviões. O meu grito é tempestade em terra de água doce e ossos entregues a cães raivosos de agiotas que trocam palavras por afectos sentidos por desmentidos! Estou nas mãos de um povo ébrio que só se agita quando o sono(!) comanda a vida! Ó-toi-toi-toi! Barcaças e carcaças bóiam no mar e tudo isto vejo sem, contudo, ver. Ai de mim! Filha e mãe do Sem Amor! Vem tu buscar-me se já viste o amor passar ao redor, se já o conheces, que eu vou morrendo às partes, roídos os meus ossos e já ida a minha carne, ardida numa sentença que não é destes tempos, sequer!

Tenha eu a graça de despertar deste sonho mau que não é o meu. Puseram-me aqui de castigo, a penar por alguma alma que encontrou morada em mim, inventada num qualquer concílio de deuses imperfeitos; de deuses humanos, pois só vi humanos incutindo tal dor a um seu igual! Barbárie!!!

Não sou eu personagem trágica? Ah! Não sou mais vítima que culpada?

Perdi-te Filho do Sem Amor, mas meu filho, como te amei…!

Nem teu Pai, nem teu Filho… mas a mim, a mim conheceste o encanto e a dor, e pela última te peço perdão… do fundo deste coração partido, quebrado, prostrado por uma dor ainda maior, a de não te ter…

Que, se algo posso ainda pedir e desejar(-te), venhas justo e verdadeiro, ó amor, que eu posso esperar-te, mas apressa-te, senhor, que o tempo corre para os Filhos e futuros Pais do Amor.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Se tenho pouco para dizer e nada que escrever, o que faço aqui então?
Talvez pratique. Pratico. Não mais meditei do que cinco minutos na minha vida inteira. Por falta de técnica. Também não digo que tenha mais técnica quando se trata de escrever. Mas pratico. Concentro-me no som dos meus dedos nas teclas qual respirar. Correm palavras como imagens num sonho. Uma verborreia mental esclarecida, materializada. Observo, entre absorvida e distante, o rápido fluxo de energia que escorre pela minha mente e deixo o pensamento concreto esvair-se, ir-se, até ficar apenas o sabor agridoce da imaginação sem barreiras nem parâmetros, o vazio, e é aí que se insurge o impulso criador, a vontade de escrevinhar, de trocar o silêncio pelo escrito, breves palavras apenas para quem as lê que se impregnam de opinares e sentires mais ou menos poderosos. Dou de caras com o caos. Serei mesmo eu quem dita o que escrevo? Sou estátua viva erguida ao "Pensador" ou vácuo aberto para a leitura da vida; tanto faz, dicotomias democráticas sem voto a aguardar. Sacudo o pó, as cinzas do conteúdo que ardeu na ponta deste cigarro com a sede de profundidade a mandá-lo pastar para tentar chegar onde a palavra é absoluta! Mas para isso estão cá os textos religiosos, não as minhas pequenas e insonsas e apalavradas filosofias! Decididamente, a mente que escreve não é mais minha; não me reconheço. Despertou já o fuso reflexivo de quem procura mais dentro. Corro suavemente as cortinas brancas, véus de mistério, petit noms para grandes verdades, mas dou de caras com um clarão. Deslendo o caminho tantas e tantas vezes percorrido mas só que, desta vez, entro num espaço ao qual ainda não dei nome por só agora ter aqui acabado de chegar. Não por negligência perante o que leio mas porque esta descoberta já não me deixa pensar em mais nada além da imagem que fica por identificar. Não tenho outro remédio senão esforçar a miopia para enxergar o que está para além desta luz, mas esta não se deixa corromper por óculos, chapéus, protectores solares, palas de burro... Nada. Fica apenas uma certeza: aprendi a meditar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O Anti-Homem

Caminhando sem apreciar a beleza à sua volta, repara apenas nisso. Vai tão preso aos pensamentos e ao peso que carrega no peito, às pedras que leva para quando chegar à montanha construir uma muralha para se proteger da dor, que nem vê que o sol tardio incendeia o céu em notas púrpura e cor de fruto, deixando a lua e as estrelas vizinhas espreitarem ainda timidamente – Quando ergui esta demanda tinha como sonho encontrar-me, mas as árvores no seu lugar olham para a minha ingenuidade de caminhante errante – Porque não te sentas à minha beira e gozas a vista e a sombra que te ofereço? Porque persistes em caminhar de olhos fechados rumo à solidão? Porque aceitas os convites da tua mente nessa tua luta pela aprendizagem em vez de ficares em paz e pronto? – Ó árvore! Tu não entendes… Eu fui feito para sentir dor e os outros não me querem lá em baixo… não têm tempo a perder na busca da felicidade. E só eu sei que não a vou encontrar, nunca a vi, eu só tenho o sal para limpar e as pedras para erguer. - Caminha para o topo e deixa a árvore à conversa com o vento e pássaros. Alguns destes seguem-nos brincando à sua volta mas ele enxota-os para ficar às voltas com o seu turbilhão e grita-lhes - Vou até ao topo da montanha para me perder de vez e quando lá chegar tornar-me-ei invisível qual vento que nem poeira levanta. Sou tão só como o extremo daquela montanha onde espero encontrar-me e fico em paz. Não se me perca ou me encontre; só sei que vou só. Já me cansei de tentar ser como os outros. Tenho um estar, um mau estar que apenas me permite o silêncio, por isso, pássaros, vão ser felizes para outro lado e não se atrevam a construir ninhos nas entrelinhas da minha muralha. Vou erguer uma redoma e ficar quieto até a morte me vir chamar e há muito que a espero! – Diz de punhos cerrados e a olhar para o céu. – Não acredito em Deus. Deus é Judas! Traiu-me. E eu vou para lá onde Judas perdeu as botas e que ninguém se atreva a vir falar comigo! – E seguiu determinado e de olhos no caminho de pedras. Apanhou mais algumas e desejou cair pela encosta abaixo dado o peso destas. Mas não! Subiu e subiu. E subiu. Chegado ao topo, nem se deu ao luxo de olhar em volta. Começou a tirar cada pedra, uma a uma, devagar, do saco e a observá-las para ver que sítio do seu projecto podiam preencher. Grande empreendimento… Logo se pôs a coleccionar mais pedras, verdadeiros calhaus afiados, redondos, grandes, achatados. Não comeu. – Ah. Finalmente sozinho. – Não mais sozinho que antes, embora. Logo fez de acordo com a sua demanda, apressada mas cautelosamente, pois, apesar de tudo, não queria morrer prematuramente; queria viver a sua até ao fim, até ao fim! E não queria ser salvo. Mas o que teria acontecido ao homem que queria viver num purgatório infernal em vida!?! Ao homem não tinha acontecido nada. Nada. Nada! O homem nunca experimentara o amor. Esse complexo mistério que alimenta as vísceras(!) de um ser. Mas a ele não. O amor, esse elixir de vida, nunca o tinha abençoado, passou-lhe à frente mas ele nunca o viu com olhos de ver, sem querer olhou sempre para o lado. À sua frente tinha agora a missão de se purgar da humanidade, de se lavar dos perfumes e costumes. Ah! Mas a vida tem tantas voltas que acabou por deixar a sua casa sem tecto, sem saber o que esperava, talvez uma chuva ou um nevão para o agonizar mais um algo. E na segunda noite, uma forte e espantosa luz veio buscá-lo para o juntar à alma unitária de todas as vidas e paralelismos possíveis e imaginários. Não teve remédio que se deixar puxar pelo pescoço. Pensava que morria, mas acabara de nascer.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

À noite

Tudo a postos? As luzes já piscam antes da chegada dos convidados, a música, claro, a música espera-os para despertar numa bateria forte, forte e ritmada como o som dos tambores e dos terramotos e dos vulcões. Mas estes terramotos e vulcões ninguém teme. E eles chegam. Chegam aos grupos de três, sete, dez, às vezes mais, e vêm preparados, expectantes para a grande noite. A pista abre com a chegada do dj numa grande entrada triunfal de profusão de instrumentos e respiração profunda e inspirada. Os copos começam lentamente a baloiçar ao estilo da dança e os corpos movem-se descontraídos mas compenetrados na pressurização que a música lhes permite. Os ventres das mulheres revibram com a batida e os homens começam a despertar para os seus movimentos sensuais e rostos alterados em sorrisos entre o à vontade e o secreto de quem ouve a música à sua maneira. Os grupos dispersam-se e unem-se outra vez, vezes sem conta, e os bares estão cheios. Mesmo quem não bebe dança como se não houvesse amanhã. E será que há? Talvez não para todos. Mas hoje é dia de festa! E isso, sim, interessa. Mais um copo! Mais um brinde! E o calor aumenta, o som sobe e a dança torna-se una. Todos dançam ao mesmo ritmo, em estilos diferentes. Parece um ritual primitivo, talvez de acasalamento. Casais tocam-se e trocam olhares que cantam. E uma quebra no som permite respirar, novo mix, uma passagem, nova música e mais uma dança. Os corpos aguentam até o dj aguentar e, no fim, pedem sempre, sempre “Só mais uma!”. Se tudo correr bem, daqui a três quinze dias, volta a festa. E todos irão voltar.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

No fim da noite, ao amanhecer

Dispo-me. Largo o casaco de pêlo falso, só uso pêlo falso, no cabide de pé pintado em marmoreado de amarelo e cinza. Dispo o vestido justo e curto e deixo-o cair. Tiro os sapatos e os collants. Solto o colar de pedras e os ponho os pendentes de lado. A roupa interior vai parar ao chão. As jóias vão para a malinha de viagem antiga e os sapatos para o armário. É Fevereiro e o chão de pedra está gelado. Caminho sobre a ponta do dedo grande e o calcanhar, numa posição bizarra para evitar que a alma do pé fique fria, tão fria como o gelo picado de uma caipirinha. Visito apressadamente a cozinha e ligo o esquentador. De volta à casa-de-banho, ligo a água quente. Espero que esteja a ferver e entro. Passo a água quente pelos pés, pernas, barriga, peito, ombros e subo até à cabeça. Deixo a água escorrer quente dos cabelos ao corpo. Sinto a reacção da pele à água e começo a soltar-me lentamente desta noite à medida que o meu corpo aquece. Revivo as imagens amorosas da tua existência. Os teus sorrisos tímidos o teu olhar directamente no meu, visitando os recantos mais profundos e preciosos do meu ser…Desligo a água por segundos para passar o champô pelo cabelo mas está tanto frio que volto a abrir a torneira. Coloco o chuveiro junto ao peito e debaixo do braço direito e sinto o calor do teu beijo na minha cara, a tua pele lisa, suave e fresca a passar pelo meu rosto num aconchegar doce e terno. Recordo a sensualidade dos meus movimentos e o teu mordiscar de lábios discreto mirando as minhas ancas, as minhas ancas de parideira às quais tiras medidas. Sim, o meu corpo foi preparado para a maternidade, para ser mãe dos teus filhos. Conheço-te há mais tempo que a minha maturidade. Lembro-me de te olhar de lado, perguntando quem é este homem…? Sim eras tu o elegante homem que mexia comigo mas a quem não me atrevia a chegar perto. Agora é inevitável. Fazes parte dos meus sonhos, és amor, luz e paixão e eu sou a mulher que te ama e tu amas isso.

domingo, 4 de julho de 2010

Aniões, Catiões, Neutrões, Protões

Sou assim, um ser que habita em cinco dimensões.

Um ser de luz em mim que vive há milhões.

Nasci assim, para alimentar os outros corações.

Como a força dos trovões.

Vivo assim, da escolha que fiz para esta vida e nas vidas já do tempo de Camões.

Tão frágil e invencível, uma roseira brava e seus botões.

Plantada pelas mãos de um sábio e seus dez anões.

Para ser amada por quem compreende o meu perfume e me lê nos meus jargões.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sonho real

Tu, ó cidade, tu não me iludes nem me desiludes.
És feita de betume e tapume e de sonhos de concretização.
Deixa que te leve no meu peito, sem mágoa nem defeito.
Deixas-me cair nas ruas da amargura, nas noites de loucura.
E ao teu ritmo sempre impões regresso, na escada do sucesso.

Mas, se tu me deixas, também eu te deixo.
Deixo-te ser pequena em redoma e sodoma.
De tantos votos de valor que exiges a mim e a outros tantos, sem pudor.
Na correria em que nos metes loucos, andamos sempre à procura de harmonia.
E em busca da tua glória, que é sempre um pouco patusca.

Deixa-me que eu encontro a paz que tu não és capaz.
Onde tu nem chegas aos calcanhares e onde me posso perder em mil lugares.
Deixa-me voar para casa, para a que trago dentro e que não cabe na tua asa.
Uma casa sem barreiras, que nem por desleixo perderia a minha vida fechada no teu barrote cruzado, nem à lei do serrote!
Uma casa feita de sossego, paz e redescoberta interior; a ulterior casa dos sonhos de cada um.

Aqui não há paredes que quebrar, só ar puro para respirar.
Aqui todos os caminhos que eu percorrer serão protecção para o meu coração.
E todos os seres vivos deste lugar conspiram para te levar um pouco deste ar.
E quando eu voltar, já não serei mais eu quem volta, mas sim o meu ser pleno de amor e calor.
A paz que tu precisas de receber e que resta tão pouco nos Homens que aí habitam, tanto que tomas deles!

E quando eu voltar… Tu hás de mudar.

sábado, 29 de maio de 2010

O fim(?)

Garras afiadas em desalinho e defesas em prédios agora em desconstrução para erguerem renovadas belas unhas da civilização. Profetas do caos. Pergunto o estarei aqui a fazer. Para que lado tombar se vida digna se presta a acabar ou a começar? Desistir? Parar? Parar para pensar. Mas como parar? Se alguém disse que parar é morrer, e não se pode desistir, é contra a natureza do jogo. Abrandar. Cada um segura o que pode. Uns agarram-se aos prédios, outros aos carros, alguns às árvores tombadas, às mãos estendidas de barcos no meio do turbilhão. Mas para eles, os profetas da solidão, tudo é em vão. Mais vale acabar com as ilusões, com o querer, com o poder. Sim, sobretudo com o poder, sede da corrupção. Deitar tudo abaixo. Fazer de novo, em nome da preservação! Contradição? Voltar às águas, às lamas, ao jogo do pau e da pedra, à lei da sobrevivência, pois mais não fazemos hoje do que subsistir. Mantermo-nos. A lei da igualdade? Para que serve a constituição se novas leis a derrubam sem gratidão? Deixar cair no lodo esta sociedade para que nasça outra sabe-se lá por onde e porquê. Mantermo-nos à tona. Prosseguir. Agarrar os sonhos e deixar os profetas da solidão ficarem um recanto para o nosso ser, só nosso, de paz e contemplação. Deixar continuar. Mudar as regras do jogo e mandar embora o demagogo - assim me calo. Não quero perder nem mais minuto deste perene desequilíbrio com o oposto como meta. Já que a vida não é recta, que cada um espere o que quiser. A espiral continua a erguer… Diga-se o que se disser.

sábado, 8 de maio de 2010

Quanto Tempo?

Abro uma página ao calhas no livro de poemas de Florbela Espanca em busca de uma resposta da sorte ao que significamos. Para mim, juntos podemos ser uma canção. Mas para essa mestra da angústia dos amores incorrectos e não correspondidos, como a razão me diz do meu por ti, não passam d’”As minhas Ilusões”. Ela confirma o que a realidade me grita. Se eu vivesse em Nova Iorque, a cidade dos sonhos e da nova existência, como canta uma das minhas músicas preferidas, te esqueceria? Se eu vivesse um amor real, talvez te esquecesse.

Porque me olhas

Se não podes corresponder-me

No meu sonho de ti

E desejo de ter-te?

Mas, no meu íntimo, existe a sensação, a intuição, a certeza, de que um dia iremos viver os sentimentos que me unem a ti e que a ti te fazem fitar-me vezes sem conta, tempos a fio.

O que terás para me dizer

Nesse silêncio amoroso

Na busca de mim

Em tom de voz meloso?

Mas quem sou eu para acertar nas certezas do meu ser mais profundo, se nem tu nem eu somos capazes de pôr em palavras o que temos em comum. Tu bem me procuras, mas nunca te decides a encontrar-me. Não sou capaz de pensar que o destino, que somos nós que o fazemos, não nos juntará, um dia, para sempre. Essa hipótese entra no meu livro mas não sou eu quem a escreve. Conheço uma pessoa que tanto desejou que alcançou.

Se apenas o tempo

Me concedesse mais um momento

Daquele que tivemos

Para saber o que vivemos…

Mas estarei eu morta, baleada, impedida de seguir em frente, na ilusão do futuro, que não é mais do que um hoje sonhado? Será esta sede, esta fome, este palácio nas nuvens de algodão doce, um dia, uma casa forte com janelas a avistar o paraíso?

Eu estou pronta.

E tu, quando estarás?

domingo, 11 de abril de 2010

My prince´s promisse

When I was little I used to read little girl´s stories and therefore I met a strong prince who climbed a tower just to see his lover and a determined prince who pursued a whole kingdom to give something back to a girl with whom he just had danced. I also met a romantic prince who kissed a dead girl just to mean he loved her beauty and I met another prince who’s pure heart conquered love above appearance. When I was young I read “Le Petit Prince” and I discovered a wise prince child boy and I wished to meet him to become his mother. Now I’m a bit older but I still wish to find a strong, determined, romantic, pure hearted prince to have a wise child ;)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Os pombos de Lisboa

“Perru-peruuuu”. Caminham eles em passos desajeitados de quem chama pelo peru e de quem, sobretudo, não sabe caminhar nem falar com a elegância do paavão-paaavão. Estropiados, alguns demonstram em vez de patas com três garras, quatro, coutos e deformações congénitas que dão direito a subsídio de alimentação por parte dos moradores que querem à força cuidar compaixonadamente daquela multidão como se ainda crianças de parque fossem. Existe, no entanto, o consenso de que se trata de uma infestação – Uma praga! – afirma uma. – Que noooojo. – desdenha outra. Vozes de protesto que ao Estado parecem não chegar… “Eles” lá lhes dão contraceptivos como, nos dias 28 e 30 de Abril de 2010, a malta contra a sida irá dar na cara do Papa àqueles que não concordam com a interdição da Igreja Católica Apostólica Romana ao uso do preservativo mas que a seguem. Antes a sida, querem ver… Mas os pombos pouco querem saber disso! Eles populam todo o ano e dão à cidade novas vagas de familiares que nem se deixam apanhar na mão de uma criança, de tão baptizados e (ex)comungados que estão pelo nosso pequeno ódio de estimação. Deixando-se ficar na rua até ao último milímetro que os separa do carro que vai a passar para se esvoaçarem para os lados ou mesmo para debaixo de uma roda… eles bicam em pontas de cigarro à falta de melhor, apresentam piolhos e outras doenças que eu não sei quais são, mas que toda a gente afirma terem, e sobretudo rondam as mesas das esplanadas, não hesitando em lhes saltar para cima caso hajam restos ou pré-restos, do que quer que seja e de quem quer que sejam. Mas que instinto de sobrevivência têm!!! Não admira que os doadores de migalhas os aceitem na sua força de viver. Cá eu, só tenho umas coisinhas a apontar… Pombo: sai da frente do meu carro, não me cagues em cima, desampara a loja do meu almoço, não comas beatas que ainda morres de cancro do pulmão e, já agora, não oiças a Igreja, usa preservativo.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sozinhez

No silêncio ouve passos… Batidas compassadas secas e crispadas pelo atrito no alcatrão. Pelas frestas dos blocos de pedra das paredes frias, invade o ar gelado da noite e o piar da coruja vizinha. Ela está sentada em frente à salamandra e ao candeeiro a gás pousado numa mesinha baixa de madeira escura e com pé de galo para afastar os maus agoiros. A poltrona ruça de sangue de boi esvaecido aconchega-se-lhe ao corpo já moldada pela preferência, e a manta nova já cheira à sua colónia de sempre. Descasca feijões verdes, para amanhã fazer a sopa do almoço, com a perícia de uma artesã de bilros, segurando a fiada por baixo ao comprido com a mão direita e segurança, lascando de uma só vez as lascas que são para sair com a mão esquerda. Corta as pontinhas de ambos os lados. Faz uma pausa para ajeitar os óculos da ponta do nariz para mais perto dos olhos e pousa o balde com os feijões prontos e os por descascar e limpa as mãos ao pano que tem no colo para se levantar e ligar o rádio lacado em madeira clara brilhante. Sintoniza a frequência 92.9fm, a rádio local de música da sua terra. Dezenas de vozes femininas esganiçadas cantam e batem com o pé formando o tom mais baixo da melodia. Homens entram à vez, um a um, e respondem ao choradinho das mulheres sobre os dias chuvosos intermináveis que estragam as colheitas para Setembro, com palavras entre um misto de marcha inspirada nos ideais comunistas de machos unidos para vencer, e de conforto protector. Ela sorri…Recorda os seus tempos de moça… De dançar ao som desta mesma música e de correr arrastada pelo namorico quase noivo para mesmo à frente do palanque dos músicos. Sente-se a sozinhez dela nas fotografias de meninos e meninas a preto-e-branco, corados nas maçãs do rosto e nos sapatos, parados em tímida pose, e nas flores secas nas três jarras de loiça frágil florida, e na cabeça de javali embalsamada e pendurada na pedra que a envolve em quatro paredes cubiculares e cruas… Ela lá sabe o que faz ali aquele javali, ou porque deixa as flores mortes já sem perfume no mesmo lugar, ou porque descasca o feijão sempre ao mesmo ritmo e modo. Ela lá sabe por que caminhos empreendeu para perder aquele quase noivo e se casar com um outro noivo mais velho que ela vinte anos e que a deixou na sua sozinhez de agora. É que ela sabe que foi ele que caçou o javali no dia em que se cumpriu um ano de casamento. Ele a amara e protegera como os homens das canções às mulheres em dó menor que dão na rádio que ouve sempre que liga a estereofonia velha, do tempo dele, que já partiu há outros vinte. Maria é seu nome. Viúva, seu estado. Sozinhito, o seu lugar na terra.

sábado, 27 de março de 2010

Das coisas que gostamos

Dos segredos da vida, do futuro e dos mistérios da nossa vida interior (Feira Esotérica em Oeiras, dias 25, 26 e 27 de Março).

Da mudança de hora de Verão (domingo dia 28 de Março) que é sinal de dormir menos mas também que o sol vem aí em força.

Das noites de lua cheia (a próxima é já 2ª-feira, dia 29 de Março).

Os primeiros morangos do ano (que já estão à venda no Praça da Figueira).

A alimentação biológica (todos os sábados no Jardim do Príncipe Real, das 8h às 15h).

Do primeiro gelado (o Santini vai abrir na da Rua do Carmo, na Baixa, em Abril).

Do Jardim da Estrela (que está aberto até à meia-noite às sextas e sábados).

De ler. O meu primeiro livro está acabado (espero que as Crónicas da Alma dêem origem ao segundo… :P).

Ai ai… E de ouvir música (“3 às Sextas", na RFM, é que está a dar, o programa do meu primo Tomás Anahory)!

E de vocês!!! :D

domingo, 21 de março de 2010

Ode à gente

Da terra amada, que em tempos deu a nascer reis e rainha, senhores e cavaleiros, restam os camponeses, alma das raízes profundas do país e da vida natural. As gentes abençoadas perduram no tempo e apreciam o alimento da nossa raça ajudando-o a crescer. Ó gente, de ti pouco escreveram nos livros de escola, dos teus grandes feitos: das batalhas que travaste sem saber armar, das amarguras que guardaste, das paixões e das vozes com que te ergueste pela nação do teu rei e do teu filho e do teu pai. Tu guardas a herança da lembrança de que esta terra nos possui e pertence. Ó povo, és canto e danças livre as tradições do teu lugar e a voz do planeta ergue-se para te ouvir. Danças e cantas em transe e ascendes ao plano invisível que tanto amas, mas no fundo és simples, puro e escorreito, dizes sempre o que te vai na mente, sem ensaios nem poesia. Ah, e o clero, esse que formou os outros, deixou-te para trás. Mas tu correste, libertaste-te e ergueste-te senhor das sempre tuas terras, serras, e campos brancos de brilho de ouro, o ouro que nunca tiveste. Chegou a hora de receberes tu a vénia dos senhores, ó gente de coragem, pulso cerrado na enxada e chapéu de lorde na cabeça. Minha gente, hoje o chapéu é teu!