segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sonho real

Tu, ó cidade, tu não me iludes nem me desiludes.
És feita de betume e tapume e de sonhos de concretização.
Deixa que te leve no meu peito, sem mágoa nem defeito.
Deixas-me cair nas ruas da amargura, nas noites de loucura.
E ao teu ritmo sempre impões regresso, na escada do sucesso.

Mas, se tu me deixas, também eu te deixo.
Deixo-te ser pequena em redoma e sodoma.
De tantos votos de valor que exiges a mim e a outros tantos, sem pudor.
Na correria em que nos metes loucos, andamos sempre à procura de harmonia.
E em busca da tua glória, que é sempre um pouco patusca.

Deixa-me que eu encontro a paz que tu não és capaz.
Onde tu nem chegas aos calcanhares e onde me posso perder em mil lugares.
Deixa-me voar para casa, para a que trago dentro e que não cabe na tua asa.
Uma casa sem barreiras, que nem por desleixo perderia a minha vida fechada no teu barrote cruzado, nem à lei do serrote!
Uma casa feita de sossego, paz e redescoberta interior; a ulterior casa dos sonhos de cada um.

Aqui não há paredes que quebrar, só ar puro para respirar.
Aqui todos os caminhos que eu percorrer serão protecção para o meu coração.
E todos os seres vivos deste lugar conspiram para te levar um pouco deste ar.
E quando eu voltar, já não serei mais eu quem volta, mas sim o meu ser pleno de amor e calor.
A paz que tu precisas de receber e que resta tão pouco nos Homens que aí habitam, tanto que tomas deles!

E quando eu voltar… Tu hás de mudar.