sábado, 29 de maio de 2010

O fim(?)

Garras afiadas em desalinho e defesas em prédios agora em desconstrução para erguerem renovadas belas unhas da civilização. Profetas do caos. Pergunto o estarei aqui a fazer. Para que lado tombar se vida digna se presta a acabar ou a começar? Desistir? Parar? Parar para pensar. Mas como parar? Se alguém disse que parar é morrer, e não se pode desistir, é contra a natureza do jogo. Abrandar. Cada um segura o que pode. Uns agarram-se aos prédios, outros aos carros, alguns às árvores tombadas, às mãos estendidas de barcos no meio do turbilhão. Mas para eles, os profetas da solidão, tudo é em vão. Mais vale acabar com as ilusões, com o querer, com o poder. Sim, sobretudo com o poder, sede da corrupção. Deitar tudo abaixo. Fazer de novo, em nome da preservação! Contradição? Voltar às águas, às lamas, ao jogo do pau e da pedra, à lei da sobrevivência, pois mais não fazemos hoje do que subsistir. Mantermo-nos. A lei da igualdade? Para que serve a constituição se novas leis a derrubam sem gratidão? Deixar cair no lodo esta sociedade para que nasça outra sabe-se lá por onde e porquê. Mantermo-nos à tona. Prosseguir. Agarrar os sonhos e deixar os profetas da solidão ficarem um recanto para o nosso ser, só nosso, de paz e contemplação. Deixar continuar. Mudar as regras do jogo e mandar embora o demagogo - assim me calo. Não quero perder nem mais minuto deste perene desequilíbrio com o oposto como meta. Já que a vida não é recta, que cada um espere o que quiser. A espiral continua a erguer… Diga-se o que se disser.

sábado, 8 de maio de 2010

Quanto Tempo?

Abro uma página ao calhas no livro de poemas de Florbela Espanca em busca de uma resposta da sorte ao que significamos. Para mim, juntos podemos ser uma canção. Mas para essa mestra da angústia dos amores incorrectos e não correspondidos, como a razão me diz do meu por ti, não passam d’”As minhas Ilusões”. Ela confirma o que a realidade me grita. Se eu vivesse em Nova Iorque, a cidade dos sonhos e da nova existência, como canta uma das minhas músicas preferidas, te esqueceria? Se eu vivesse um amor real, talvez te esquecesse.

Porque me olhas

Se não podes corresponder-me

No meu sonho de ti

E desejo de ter-te?

Mas, no meu íntimo, existe a sensação, a intuição, a certeza, de que um dia iremos viver os sentimentos que me unem a ti e que a ti te fazem fitar-me vezes sem conta, tempos a fio.

O que terás para me dizer

Nesse silêncio amoroso

Na busca de mim

Em tom de voz meloso?

Mas quem sou eu para acertar nas certezas do meu ser mais profundo, se nem tu nem eu somos capazes de pôr em palavras o que temos em comum. Tu bem me procuras, mas nunca te decides a encontrar-me. Não sou capaz de pensar que o destino, que somos nós que o fazemos, não nos juntará, um dia, para sempre. Essa hipótese entra no meu livro mas não sou eu quem a escreve. Conheço uma pessoa que tanto desejou que alcançou.

Se apenas o tempo

Me concedesse mais um momento

Daquele que tivemos

Para saber o que vivemos…

Mas estarei eu morta, baleada, impedida de seguir em frente, na ilusão do futuro, que não é mais do que um hoje sonhado? Será esta sede, esta fome, este palácio nas nuvens de algodão doce, um dia, uma casa forte com janelas a avistar o paraíso?

Eu estou pronta.

E tu, quando estarás?