terça-feira, 24 de agosto de 2010

Se tenho pouco para dizer e nada que escrever, o que faço aqui então?
Talvez pratique. Pratico. Não mais meditei do que cinco minutos na minha vida inteira. Por falta de técnica. Também não digo que tenha mais técnica quando se trata de escrever. Mas pratico. Concentro-me no som dos meus dedos nas teclas qual respirar. Correm palavras como imagens num sonho. Uma verborreia mental esclarecida, materializada. Observo, entre absorvida e distante, o rápido fluxo de energia que escorre pela minha mente e deixo o pensamento concreto esvair-se, ir-se, até ficar apenas o sabor agridoce da imaginação sem barreiras nem parâmetros, o vazio, e é aí que se insurge o impulso criador, a vontade de escrevinhar, de trocar o silêncio pelo escrito, breves palavras apenas para quem as lê que se impregnam de opinares e sentires mais ou menos poderosos. Dou de caras com o caos. Serei mesmo eu quem dita o que escrevo? Sou estátua viva erguida ao "Pensador" ou vácuo aberto para a leitura da vida; tanto faz, dicotomias democráticas sem voto a aguardar. Sacudo o pó, as cinzas do conteúdo que ardeu na ponta deste cigarro com a sede de profundidade a mandá-lo pastar para tentar chegar onde a palavra é absoluta! Mas para isso estão cá os textos religiosos, não as minhas pequenas e insonsas e apalavradas filosofias! Decididamente, a mente que escreve não é mais minha; não me reconheço. Despertou já o fuso reflexivo de quem procura mais dentro. Corro suavemente as cortinas brancas, véus de mistério, petit noms para grandes verdades, mas dou de caras com um clarão. Deslendo o caminho tantas e tantas vezes percorrido mas só que, desta vez, entro num espaço ao qual ainda não dei nome por só agora ter aqui acabado de chegar. Não por negligência perante o que leio mas porque esta descoberta já não me deixa pensar em mais nada além da imagem que fica por identificar. Não tenho outro remédio senão esforçar a miopia para enxergar o que está para além desta luz, mas esta não se deixa corromper por óculos, chapéus, protectores solares, palas de burro... Nada. Fica apenas uma certeza: aprendi a meditar.