sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Janela aberta

Abriu-se aquela janela
Abriu-se de par em par

Faça-se dela porta
E jardim com estrelas a brilhar

Aquela tímida janela
E o espelho em frente
São vista para a imensidão do teu olhar

São beijos arrancados
Na promessa de haver sempre
Uma porta aberta

Para aquela estrada
Para aquele lugar

Janela tímida, janela aberta
Deixa-me por ti olhar
Deixa-me entrar
Abrir aquela porta
Andar nesta vida contigo de mão dada

Deixa-me entrar
Deixa que te assome e transforme
Abra-se essa porta
Para veres o sol brilhar

Que a tua vida se mostre
Nesta e naquela nota
E aquela porta
Se abra de par em par

Deixa que te assome e transforme
Abra-se a tua porta
Comigo por teu par

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Quadro


Eu balanço no regaço do meu sonhar e me baloiças ao colo, anunciando a criança querida, enfim nascida, descendência das estrelas, que outrora fomos e que ainda guardamos no coração. Demonstras ramo de flores variadas e perfumadas como as cores e os humores da nossa humana condição e que são prova arrancada da nossa paixão. E tu olhas com respeito o céu, homenageando-o, buscando sua aprovação. Um barco de papel que flutua no mar em que me banho vestida de puro branco é carta de amor já lida e percorrida como a letra de uma canção, o cunho da promessa partilhada ao longo das horas. Talvez apenas a ilusão de que me pertence essa carta… E escondido nas flores, o espírito protege o observador e o amor da desilusão, guardião da mudança de estação, poeta de meu coração. Como lugar sagrado o sol num prado paradisíaco de mil sabores e mais as cores das flores. E flores, outras, sobem em coroa ao céu nas mãos devotas de quem acredita que da alma há sempre mais para viver, mesmo que sem se ver. Asas de anjo dão alento ao meu triste olhar que se perdia em dores por quem perdi, até que chegasses para me fazer compreender, finalmente, que o amor vem mais uma vez. És quadro inacabado, sinal de aviso prudente que a vida somos nós quem a pinta. E, lá ao cimo, talvez não tão próximos, os montes adensam-se alegres e fantásticos em êxtase, por ter finalmente chegado a hora dos corações.

domingo, 5 de setembro de 2010

Frutos do Amor

Tiver eu a graça, a graça da vida em mim, oferecida em dupla e una consciência, e jamais, como outrora noutras, às tantas da noite incauta de ímpeto, calor e suor, para nem falar do Sem Amor… Que o desejo enganou, trocando a palavra liberdade por irresponsabilidade. A mim. Em sobressalto e, posto isto, que faço eu que logo me enlaço com fervor por duas dúzias de olhares profundos e a promessa de, talvez, uma dada carta por abrir vier, chegada do outro lado do mar!? Tiver eu a sorte de te encontrar, e não te engano, sorte a tua se ainda me encontrares sem marcas de um longo desencontro e vã desilusão, num encontrão, solavanco arrancado ao granizo da vida, puxão de orelhas à impura intenção que não se leu naquele olhar, nem num outro, mas que, agora reparo, veio rondando-me desprevenida na minha inocência já ténue nos lençóis depois frescos. Sorte a nossa, meu amor! – se eu conseguir seguir estas linhas e lhes dar um bom destino, romance digno de um fim por imaginar… Ó – Ou serei, de facto, Cassandra? – Certamente possuída e punida pelo homem que me amou quando eu só amava outro. Só amo o impossível, meu amor, amo-te, inexistente, na profecia de que, onde quer que estejas, me lês e me voltas a escrever.

Vão-se as gaivotas. Vão-se os gaviões. O meu grito é tempestade em terra de água doce e ossos entregues a cães raivosos de agiotas que trocam palavras por afectos sentidos por desmentidos! Estou nas mãos de um povo ébrio que só se agita quando o sono(!) comanda a vida! Ó-toi-toi-toi! Barcaças e carcaças bóiam no mar e tudo isto vejo sem, contudo, ver. Ai de mim! Filha e mãe do Sem Amor! Vem tu buscar-me se já viste o amor passar ao redor, se já o conheces, que eu vou morrendo às partes, roídos os meus ossos e já ida a minha carne, ardida numa sentença que não é destes tempos, sequer!

Tenha eu a graça de despertar deste sonho mau que não é o meu. Puseram-me aqui de castigo, a penar por alguma alma que encontrou morada em mim, inventada num qualquer concílio de deuses imperfeitos; de deuses humanos, pois só vi humanos incutindo tal dor a um seu igual! Barbárie!!!

Não sou eu personagem trágica? Ah! Não sou mais vítima que culpada?

Perdi-te Filho do Sem Amor, mas meu filho, como te amei…!

Nem teu Pai, nem teu Filho… mas a mim, a mim conheceste o encanto e a dor, e pela última te peço perdão… do fundo deste coração partido, quebrado, prostrado por uma dor ainda maior, a de não te ter…

Que, se algo posso ainda pedir e desejar(-te), venhas justo e verdadeiro, ó amor, que eu posso esperar-te, mas apressa-te, senhor, que o tempo corre para os Filhos e futuros Pais do Amor.