sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Levanta-te cedo esta manhã que a chuva já calou a tristeza das noites solitárias. Lavou a dor e o pesar, sobrou o cinzento da inquietude daquele outro lugar, mas ainda está mau para navegar. Vem cantarinhar as gotas ao relento, eu dou-te o meu tempo, sempre que houver intento. Nesta madrugada de chuva sou eu o teu sol. Deixa-me brilhar. 

domingo, 13 de janeiro de 2019

Há na fé

Não apenas na fé religiosa, mas na fé para a vida, para o amor e para o cumprir dos sonhos, a centelha de Deus. O Deus vivo. O Deus da fortuna de que sempre acredita em si, no outro, em Amor, nas infinitas possibilidades da vida, na construção que vem da desconstrução da dor e dos pré-conceitos. Na dor e na frustração, a esperança. Na falha e na derrota, um tentar de novo. E de novo. Sem ceder ao cansaço. Parar para descansar mas apenas para mudar de curso, nunca de rumo, nunca desistir. Somos como crianças a aprender a andar; cair e levantar, numa dança infinita com o nosso ser-superior. Haja Amor!
De todos os sonhos
entre todos os devaneios
veio a mais sublime certeza

De todos os objectivos
entre os mais variados fins
não há limite na alma

A alma que quer e almeja
sempre encontra um caminho
e o Homem cumpre-se

Há em cada ser
a visão de se cumprir
de se evoluir e de se suprir

Como em busca de um sentido
de uma aspiração superior
iremos sempre conseguir devir

Haja a paixão e a tranquilidade
e o sonho será gente viva
sempre pronto para a eternidade

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Rima de coração

Sopra um vento morno e tu prometes que voltas na volta de um dia qualquer em que o tempo seja fora de estação. Que seja em dia de monção digna de menção e que me devolva a paz de uma noite desigual com esperança igual. Chova alegria nos campos, cresçam flores nas minhas mãos. Foram horas e minutos em que não senti solidão, apenas restos de cansaço por não te ver caminhar o meu chão. Estendi a mão ao destino, que mais pareceu castigo, e levantei a minha oração. Que saudade de receber da vida uma benção. Outrora dancei nesse vento, chorei nessa chuva em que não vieste. Hoje espero pelas noites que novos dias darão, e pelo dia que chegues, minha paixão. Haja chuva ou haja vento, se vieres vem a tempo.
A prece velada
A benesse vedada
falta a fé
falta a gratidão
falta acreditar que já o tens na mão
Amor
Não falta amor
faltasse antes o pavor
O pavor de ser feliz de vez por uma vez
Tens medo de viver e morrer de tanto viver
Daquela morte da carne
Que leva o espírito daqui para fora
Para perto de ti mesmo
Deixa a vida correr
Pára de fugir
É agora
Do alto daquela igreja
da minha igreja
que tanto pode ser esta
como outra qualquer
desde que esteja viva
desde que seja verde
tenha folha e tronco
Folha branca onde te escrevo
cartas de amor de fio e pavio
de um amor que não se descreve
embora se enleve
Deixa-me lá morar
dentro daquele altar
que é o teu coração
cheio ou vazio
Naquela igreja bendita
Que é a floresta ou a mesquita

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Hoje escrevo. Escrevo à medida que vou vivendo e vivo à medida do que vou vivendo e escrevendo. Escrevo sobre a minha vida e sobre a vida em mim.

Foram círculos à espera que se quebrassem feitiços e são feitiços quebrados em nome de um novo ciclo.

É estranha a forma como falamos sempre do mesmo... Estaremos fechados nessa pequena espiral a que chamamos individualidade, ou será individualismo puro e simples?


Se desejarmos o novo será que ele vem?

Se escrevermos, se pintarmos e cantarmos e se escolhermos o novo será que ele passa a existir?

São tantas as citações sobre a mudança que não me apetece falar dela.

Quero apenas saber.

Saber se temos esse poder.
A minha resposta será: só experimentando.

E aqui vai. Não vou escrever poesia. Não vou escrever sobre a escrita, nem tão pouco contar um conto. Também não vou deixar mais que as mãos falem mais depressa que o meu pequeno mas infinito cérebro.

Quero apenas o novo e já não quero ter sono.
..

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O sábio

Em tempos, perguntaram a um sábio o que era o amor.
O sábio respondeu "a terra brotar flores".
Perguntaram-lhe então o que era a felicidade.
O sábio respondeu "a lua ver o sol raiar".
Depois perguntaram o que era a realização e ele disse "observar cada uma destas coisas".
Quando fores falar com um sábio leva-lhe o coração e um dicionário :)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O barco partiu

Deixou em terra amarguras
Levou a paixão
Ainda não voltou
Na areia busco ternuras
Ao sal me estendo
E me entendo

Quem sabe de ti
A casa voltaste
Ainda agora te perdi
Se te cansaste
Deixa-me saber
Para te esquecer

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Rio salgado

Rio, rio de água salgada mesclada ao teu sabor original.
Deixaram de beber os vivos, mas dão-te a alma marinheiros distantes do seu sagrado mar.
Igual a tantos mares onde voam gaivotas e pairam ilhas, ilhéus e ilhotas, és rio salgado, rio amado e atraiçoado. Traiçoeiro.
Correntes fortes que nem vento levam os doces banhos a rodopiar em desencanto.
Do rio ao mar...
Para se perderem na bravura infinita de um sol poente, até desaparecerem...
Leva-me à tua fonte lá bem longe, num recanto da tua mãe montanha.
Dá-me a beber vida, deixa lá o teu destino para me vires beijar.
Prometo que hei de sempre te amar.



Tenho-te na calha.
Não numa prateleira a apanhar pó e caruncho.
Também, que não és de madeira.
Carne e osso e sangue quente, raio de verão temperado em chuva morna molhada.
Tenho-te na calha, a caminho da montanha-russa da vida.
Subiremos e desceremos em afectos e concordâncias, mas estaremos sempre de viagem.
Trazes-me no bolso da camisa, aconchegada, pequena, a espreitar com vista para um grande mundo, o teu. Tu és visão e eu sonho.
Visão de sonho, viagem, mundo para respirar.
E quando a dança parar, haverá sempre terra e mar para viajar.