sábado, 8 de maio de 2010

Quanto Tempo?

Abro uma página ao calhas no livro de poemas de Florbela Espanca em busca de uma resposta da sorte ao que significamos. Para mim, juntos podemos ser uma canção. Mas para essa mestra da angústia dos amores incorrectos e não correspondidos, como a razão me diz do meu por ti, não passam d’”As minhas Ilusões”. Ela confirma o que a realidade me grita. Se eu vivesse em Nova Iorque, a cidade dos sonhos e da nova existência, como canta uma das minhas músicas preferidas, te esqueceria? Se eu vivesse um amor real, talvez te esquecesse.

Porque me olhas

Se não podes corresponder-me

No meu sonho de ti

E desejo de ter-te?

Mas, no meu íntimo, existe a sensação, a intuição, a certeza, de que um dia iremos viver os sentimentos que me unem a ti e que a ti te fazem fitar-me vezes sem conta, tempos a fio.

O que terás para me dizer

Nesse silêncio amoroso

Na busca de mim

Em tom de voz meloso?

Mas quem sou eu para acertar nas certezas do meu ser mais profundo, se nem tu nem eu somos capazes de pôr em palavras o que temos em comum. Tu bem me procuras, mas nunca te decides a encontrar-me. Não sou capaz de pensar que o destino, que somos nós que o fazemos, não nos juntará, um dia, para sempre. Essa hipótese entra no meu livro mas não sou eu quem a escreve. Conheço uma pessoa que tanto desejou que alcançou.

Se apenas o tempo

Me concedesse mais um momento

Daquele que tivemos

Para saber o que vivemos…

Mas estarei eu morta, baleada, impedida de seguir em frente, na ilusão do futuro, que não é mais do que um hoje sonhado? Será esta sede, esta fome, este palácio nas nuvens de algodão doce, um dia, uma casa forte com janelas a avistar o paraíso?

Eu estou pronta.

E tu, quando estarás?

1 comentário:

Domingueira disse...

Muito bom. Que prazer ler estas palavras.
Muitos parabéns!