segunda-feira, 12 de julho de 2010

No fim da noite, ao amanhecer

Dispo-me. Largo o casaco de pêlo falso, só uso pêlo falso, no cabide de pé pintado em marmoreado de amarelo e cinza. Dispo o vestido justo e curto e deixo-o cair. Tiro os sapatos e os collants. Solto o colar de pedras e os ponho os pendentes de lado. A roupa interior vai parar ao chão. As jóias vão para a malinha de viagem antiga e os sapatos para o armário. É Fevereiro e o chão de pedra está gelado. Caminho sobre a ponta do dedo grande e o calcanhar, numa posição bizarra para evitar que a alma do pé fique fria, tão fria como o gelo picado de uma caipirinha. Visito apressadamente a cozinha e ligo o esquentador. De volta à casa-de-banho, ligo a água quente. Espero que esteja a ferver e entro. Passo a água quente pelos pés, pernas, barriga, peito, ombros e subo até à cabeça. Deixo a água escorrer quente dos cabelos ao corpo. Sinto a reacção da pele à água e começo a soltar-me lentamente desta noite à medida que o meu corpo aquece. Revivo as imagens amorosas da tua existência. Os teus sorrisos tímidos o teu olhar directamente no meu, visitando os recantos mais profundos e preciosos do meu ser…Desligo a água por segundos para passar o champô pelo cabelo mas está tanto frio que volto a abrir a torneira. Coloco o chuveiro junto ao peito e debaixo do braço direito e sinto o calor do teu beijo na minha cara, a tua pele lisa, suave e fresca a passar pelo meu rosto num aconchegar doce e terno. Recordo a sensualidade dos meus movimentos e o teu mordiscar de lábios discreto mirando as minhas ancas, as minhas ancas de parideira às quais tiras medidas. Sim, o meu corpo foi preparado para a maternidade, para ser mãe dos teus filhos. Conheço-te há mais tempo que a minha maturidade. Lembro-me de te olhar de lado, perguntando quem é este homem…? Sim eras tu o elegante homem que mexia comigo mas a quem não me atrevia a chegar perto. Agora é inevitável. Fazes parte dos meus sonhos, és amor, luz e paixão e eu sou a mulher que te ama e tu amas isso.

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