domingo, 5 de setembro de 2010

Frutos do Amor

Tiver eu a graça, a graça da vida em mim, oferecida em dupla e una consciência, e jamais, como outrora noutras, às tantas da noite incauta de ímpeto, calor e suor, para nem falar do Sem Amor… Que o desejo enganou, trocando a palavra liberdade por irresponsabilidade. A mim. Em sobressalto e, posto isto, que faço eu que logo me enlaço com fervor por duas dúzias de olhares profundos e a promessa de, talvez, uma dada carta por abrir vier, chegada do outro lado do mar!? Tiver eu a sorte de te encontrar, e não te engano, sorte a tua se ainda me encontrares sem marcas de um longo desencontro e vã desilusão, num encontrão, solavanco arrancado ao granizo da vida, puxão de orelhas à impura intenção que não se leu naquele olhar, nem num outro, mas que, agora reparo, veio rondando-me desprevenida na minha inocência já ténue nos lençóis depois frescos. Sorte a nossa, meu amor! – se eu conseguir seguir estas linhas e lhes dar um bom destino, romance digno de um fim por imaginar… Ó – Ou serei, de facto, Cassandra? – Certamente possuída e punida pelo homem que me amou quando eu só amava outro. Só amo o impossível, meu amor, amo-te, inexistente, na profecia de que, onde quer que estejas, me lês e me voltas a escrever.

Vão-se as gaivotas. Vão-se os gaviões. O meu grito é tempestade em terra de água doce e ossos entregues a cães raivosos de agiotas que trocam palavras por afectos sentidos por desmentidos! Estou nas mãos de um povo ébrio que só se agita quando o sono(!) comanda a vida! Ó-toi-toi-toi! Barcaças e carcaças bóiam no mar e tudo isto vejo sem, contudo, ver. Ai de mim! Filha e mãe do Sem Amor! Vem tu buscar-me se já viste o amor passar ao redor, se já o conheces, que eu vou morrendo às partes, roídos os meus ossos e já ida a minha carne, ardida numa sentença que não é destes tempos, sequer!

Tenha eu a graça de despertar deste sonho mau que não é o meu. Puseram-me aqui de castigo, a penar por alguma alma que encontrou morada em mim, inventada num qualquer concílio de deuses imperfeitos; de deuses humanos, pois só vi humanos incutindo tal dor a um seu igual! Barbárie!!!

Não sou eu personagem trágica? Ah! Não sou mais vítima que culpada?

Perdi-te Filho do Sem Amor, mas meu filho, como te amei…!

Nem teu Pai, nem teu Filho… mas a mim, a mim conheceste o encanto e a dor, e pela última te peço perdão… do fundo deste coração partido, quebrado, prostrado por uma dor ainda maior, a de não te ter…

Que, se algo posso ainda pedir e desejar(-te), venhas justo e verdadeiro, ó amor, que eu posso esperar-te, mas apressa-te, senhor, que o tempo corre para os Filhos e futuros Pais do Amor.

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