quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Amor Cigano

Há dias assim. Sente-se vontade de abraçar, de sentir o suave corpo apertado contra o nosso, rir ao ouvido de alguém, tocar na pele e apreender toda a sua textura, mostrar na nossa mais frágil sensualidade a coesão da energia que transportamos dentro. Somos senhores do nada e do todo viemos. Para lá caminhamos. Há dias em que a música desperta memórias e nos transporta para sensações que já tivemos e traz desejos secretos. Nesse dia continuamos o sonho, voamos mais alto e voltamos a ser o que Deus preparou para nós. Há as crianças no passeio, os seus risos lembram vozes de golfinhos, a melodia dos pássaros soa a Primavera e sente-se melhor o odor das flores. Há dias em que a montanha lá ao longe cabe na palma das nossas mãos. Fundimo-nos com o sol, que só para nós explode em sorrisos, e guardamos o verde naquela paleta que mais tarde iremos usar. Traçamos projectos, sentimos calor, acreditamos na existência, respiramos fundo e agradecemos a experiência de estarmos vivos. Olhamos aquela pessoa que pensamos desconhecer com toda a intimidade e baixinho fazemos uma prece que ela irá agradecer. Respiro fundo e a luz brilha através das minhas pestanas, abre um arco-íris que surgiu só para mim. Para este espectáculo gostava de te convidar. Passa o vento do mar e oiço a gaivota, bandos de pássaros trazem para contar as viagens de outros tempos, com árvores a esvoaçar, os ninhos estão escondidos, não vá ninguém lá para os assustar. E tu, agraciado, espreitas um e vês ovos pintados, que um dia vão voar, desces e o bater dos teus pés no chão levanta poeira de ouro que desperta outro ser. Encontram-se a meio caminho, acordam em subir o monte, passam pelo lago que está calmo como a serenidade dessa tarde, não tivesses nada que fazer e ficavas ali até ao anoitecer. Passa um gato, preto, e outro branco, que parecem também dançar, molhas a cara, descalças-te, despes-te e prometes não olhar, a água está morna. Descobres que a água é feita de cristal e que os peixes são de ouro e de prata, e que dançam ao luar. Procuras ver de onde vem o som que se vai espalhando por todo o ar. Vem daquela copa, é de um pintassilgo que quer acasalar. Segues para cima e o frio está a chegar. Enterras os pés na terra e ao tirar trazes um visitante que cá cima vem espreitar, assustas-te e corres, mas cais e ris a doer. Chega a hora do abraço, leve e quente, que vem e te leva sempre a balançar, e finalmente um perfume inunda o teu viver, lembras-te que já te pertence, a tua memória sabe-o de cor, e pedes para nunca, nunca, o esquecer. Fica a promessa: amanhã pelos campos correr, começam junto da ribeira e o mundo vão percorrer.

1 comentário:

Anónimo disse...

:)
Gosto tanto J!!!
beijinho BOM!