terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Música Maestro!

Sentada no hall de entrada, esperei a tua chegada. Pedes perdão e eu não digo que não. Há na espera uma feroz fera que desespera e que ao ver-te se esquece da mera. Passou meia hora na tua demora. Saímos para o dia e damos com um gato que mia e com o sol que já vai alto. O teu sorriso é tão grande que tudo à nossa volta pára. Paira no ar dos contornos uma luz de ouro esbranquiçada que me leva a pensar que deveria ver sempre assim. Vamos de mão dada ao café dos poetas onde vais ler para mim sobre a queda de cometas. Eu levo uma folha em branco no qual escrevo este canto, sentada num banco com vista para uma arcada de pedra, tão antiga como aquela árvore cuja sombra nos fita. Dou por mim deitada ao teu lado a conversar sobre a arte da natureza, nas figuras humanas distintas que encontramos na nuvens e penso que sorte tenho que as vejas também. E começo a observar-te. O brilho dos teus olhos canta para mim como uma guitarra portuguesa que sorri à voz, e chega o piano, devagarinho, devagarinho. A voz tarda, está entretida a dançar num beijo suave e grande como o planeta onde caiu o cometa que já ninguém sabe onde foi parar, só sabe que não quer parar de querer dançar. Chama a voz que à guitarra faz falta, faz-lhe falta ter um beijo assim, tão doce e imenso. E ninguém se ofende se hoje chegar tarde, afinal a voz também precisa de inspiração. Continuamos por campos bravos para o próximo encontro, desta vez é a água fresca que desperta em rios e ribeiras que correm como os acordes na ponta dos dedos. Passam frescas as ventanias pelos meus cabelos e tu sente-os por entre as mãos. Há neste canto um senhor que nos inspira, dá-nos notas de troco para aquilo que não comprámos mas de que muito gostámos. Ele acena, parece chamar a voz. A voz entrelaçada na sua paixão, não faz caso, deixem que a guitarra também sabe cantar. E ela lá canta, canta contando uma longa história ora sentida, ora apressada, marcada pela vida que havia naquele planeta onde caiu o cometa. Levantam-se as vozes do povo que a tudo assistiu. Quem lá viveu é testemunha da dor, da loucura, das promessas, da beleza que não esqueceu, conta a guitarra. E nós, que vamos de passagem, temos memórias do que não vivemos sem tão pouco deixarem de ser verdades. E o amanhã, pergunto aos teus olhos. A guitarra responde, preciso de ti. E eu canto, canto no lugar da voz, cantando-te ao ouvido canções de sonhos e lugares que a minha imaginação conhece, e pego-te nas mãos e dançamos, e a guitarra observa e o piano também e eu quero levar-te lá. Deixamos para trás o café dos poetas e a história dos cometas, mas as nuvens vêm connosco e no teu olhar a música continua a tocar, a tocar, sem parar, sem parar. E o tempo passa a bailar por entre as emoções e as ruas e as estações. Já escolhemos o destino desta melodia. Esta noite, o teu olhar será música para os meus ouvidos e o meu cantar será dança para a tua alma tocar. E assim partimos rumo a casa, para à desgarrada fazermos da música amor.

1 comentário:

Madalena disse...

Adoro Jo

Não te sabia tão poética!
tens aí um tesouro escondido. ;)

um grande beijinho Mad